Essa semana o Drink saiu na noite com a intenção de julgar o Bar Itinerante do Arlindo, reduto da boemia alencarina que atualmente tem sua sede localizada atrás de um inóspita rua paralela à Avenida Aguanambi. Afora a incoerência do estabelicimento estar localizado nas proximidades da sede da AMC, não existe nenhum outro aspecto digno de comentários no local, seja pro bem, seja pro mal. Seu grande diferencial era o Quiz que rolava toda quarta-feira na sua sede anterior (Rua Joaquim Nabuco quase esquina com Avenida Antônio Sales), mas com a mudança de vizinhança, a noite mais animada no meio do meio da semana acabou rodando.
O público é quase o mesmo do Toca do Plácido. Quitutes e bebidas não tem nada que chame muita atenção, tudo geladinho e certinho demais. Uma pracinha na frente do local completa o cenário clichê porém agradável. Devido a evidente falta de assunto a equipe do Drink desviou imediatamente o foco, deixando de lado o resumão.
Sem comentários... pro bem ou pro mal... |
Como estamos sempre atenados com os assuntos mais polêmicos do momento e com a lembrança auxiliada por um transeunte que portava em seu veículo um paredão de som com o volume a toda altura, resolvemos discutir o movimento #baixeosompiroquinha, a nova cafonice de Fortaleza. A hastag foi criada no microblog twitter em apoio ao projeto de lei do vereador Guilherme Sampaio do PT, que tem o objetivo de proibir o uso dos tais paredões salvo algumas exceções.
Já de começo o Drink fala: somos 100% contra o paredão de som, enche o saco, é desrespeitoso, gera poluição sonora etc. Mas a questão a ser levantada não é essa!
Isso aqui ô ô... é um pouquinho de Brasil ia ia... |
O assunto que o Drink traz pra roda é: não seria preconceituoso e discriminatório proibir essa manifestação cultural típica na nossa Cidade? Não seria o cafuçu dono do paredão um de nossos novos personagens típicos, talvez o nosso novo vaqueiro? Não seria o ritual de tomar todas num copo plástico tirando gelo do isopor um novo patrimônio imaterial a ser tombado?
O velho e o novo personagem. Distintos na essência, mas não menos icônicos. |
Meus caros, a cultura não tem que agradar a todos e nem a maioria. A cultura nem sempre é agradável e bonita. Mas a cultura conta uma história e é retrato de uma época. Então não seria responsável preservá-la? Quem tem a autoridade de julgar o que é bom, o que é ruim e o que é descartável? Vejam bem, não estamos tratando somente da música tocada e de seu volume, estamos tratando da totalidade do ritual. O Drink acha bela a dança da capoeira mas o som do berimbau a gente considera tão irritante quanto o paredão de som.
O que a morena de flor na cabeça, a mulata de saia rodada, o universitário barbudo e a branquela de meia-calça não enxergam é que querendo ou não o cafuçu já é definitivamente um personagem da cultura regional e portanto, pelo menos teoricamente, seus rituais devem ser preservados e defendidos pelas nossas instituições culturais.
As Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda não são só sobre o Brasil das Sandras, das Clarahs e das Janaínas |
O carnaval vem chegando ai com muito samba e marchinhas no Rio, muito axé em Salvador e muito neo-forró em Morro Branco. Defender o fim do paredão é defender uma homogeineização cultural. O paredão está mais na nossa raiz que o o Festival de Jazz de Guaramiranga.
O Drink meio que não põe questões e movimentos culturais em nenhum pedestal. O mundo muda assim como os gostos e as cores se transformam.
Nosso objetivo aqui é libertar a população de qualquer discurso politicamente correto. O que queremos é além de poder falar mal sem culpa do paredão de som, é poder falar mal da capoeira, do maracatu, do jazz, do chorinho, do candomblé, do são joão, da romaria, da dança da chuva...
Se quiser.
Se achar necessário.
Se não gostar.
Sem culpa de parecer ridículo.
Sem precisar temer ser repreendido pelo seu colega do CH2.
Liberdade!
Mayra Vasconcelos.